quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Programa semanal CIÊNCIA ESTELAR

A partir do próximo dia dois de outubro a Academia Ciência Estelar terá semanalmente um programa on-line. No programa “Ciência Estelar” abordaremos assuntos relativos aos nossos estudos espirituais, apresentando-os em três blocos.

O slogam do programa é “Porque sempre as verdades espirituais vieram do céu”, uma realidade histórica tanto considerada de forma religiosa quanto esotérica.

O primeiro bloco será dedicado às referências religiosas do assunto. O segundo bloco conterá as abordagens e apresentações do tema do programa por parte de escolas iniciáticas e o terceiro bloco conterá referências de mestres da espiritualidade sobre o assunto.

Um programa inédito estará on-line, toda semana, na quinta-feira, às 21h10, no site www.tvjbrazil.com. Haverá reprises nos domingos, às 14h10 e nas segundas, às 24h. Mas, mesmo que você perca as reprises, ainda assim poderá assistir aos programas, pois eles ficarão disponíveis para acesso no site do YouTube.

O tema do programa de estreia é “Astrologia, a ciência estelar dos deuses”. Os temas seguintes são: “Xamanismo, a primeira religião da Terra”, “A manifestação de Deus como natureza” e “O destino da humanidade é a evolução”.

Nos acompanhe e envie comentários e sugestões! Divulgue aos seus amigos e conhecidos.


Aguardamos todos lá!


Em seu nascimento a Ciência estava impregnada de magia e esoterismo!

Aventuras na História

Kepler, Copérnico, Newton...Os pais da matéria

Flávia Dieguez | 01/04/2004 00h00
Kepler, um dos criadores da astronomia, fazia horóscopos nas horas vagas. Newton, fundador da física moderna, escreveu tratados de alquimia. Ao nascer, a ciência estava impregnada de misticismo e magia e, no entanto, revolucionou o modo de entendermos o mundo
Hoje é comum pensar que a ciência nasceu pronta, na tranqüilidade de uma universidade, em algum momento do século 16. Mas a verdade é bem diferente: a ciência não apenas surgiu fora das escolas como esteve quase sempre em confronto com elas. Não foi o resultado de uma sacada genial, mas uma obra coletiva, confusa, incerta e demorada. No longo período de gestação do método científico, entre 1500 e 1700, magos e cientistas andaram juntos em sentido contrário da Igreja e das universidades, cujas idéias dominavam as sociedades daquela época.
Parece chocante saber que os fundadores da ciência eram também alquimistas, animistas ou herméticos, entre outras variantes do pensamento místico que ressurgiram na Europa, em pleno século 15. Mas é claro que, na época, eles não sabiam que estavam criando nova forma de conhecimento e não tinham certeza de seu valor ou de sua utilidade.
Um exemplo da ambigüidade em que viviam esses homens é a história de um dos fundadores da astronomia contemporânea, o alemão Johannes Kepler. Por volta de 1600, ele introduziu os preceitos que os astrônomos ainda seguem hoje em dia ao observar, durante meses a órbita de Marte. A partir daí, tirou uma conclusão – a de que a órbita dos planetas não era um círculo, como se pensava desde a Antiguidade, mas uma elipse. A marca da ciência, como hoje se sabe, era o rigor dos dados coletados por Kepler e a clareza com que os apresentou, permitindo que qualquer um refizesse as observações para checá-las.
Isso é bem diferente do conhecimento mágico ou hermético, que é obrigatoriamente misterioso: não pode ser obtido com base em observações ou de experiências práticas, porque advém de uma realidade transcendental, ou seja, que não pode ser percebida pelos sentidos, nem explicada pela razão. Um estudioso da questão, o inglês Thomas Vaughn, escreveu em 1888, no livro Magia Adâmica, que o conhecimento místico é feito de visões e de revelações, e que o homem só pode chegar a uma compreensão total do universo mediante uma “iluminação”.
Ou seja, mais do que aprender ou descobrir os fatos, o que se buscava, nesse caso, era “entrar” nessa realidade oculta por meio de orações, rituais ou invocações secretas. As fórmulas mágicas e místicas não precisam fazer sentido para as pessoas comuns: ao contrário, vêm sempre em linguagem metafórica, que só os iniciados podem compreender. .
Hoje, é fácil fazer essas distinções porque estamos acostumados com a ciência e, desde criança, aprendemos o valor das definições precisas, das experiências e das observações. Mas os fundadores da ciência tiveram de aprender à medida que avançavam e, a cada momento, tinham dúvidas, oscilando entre as diversas formas de conhecer o mundo. O próprio Kepler, nas horas vagas, fazia previsões astrológicas para aumentar seu salário de matemático, e várias das suas teses tinham muito a ver com as idéias herméticas do filósofo grego Pitágoras, para quem a realidade que vemos não era o mundo verdadeiro. A realidade autêntica, segundo Pitágoras, eram os números puros e as relações entre eles – assim, quem pensa que está ouvindo uma melodia, está apenas reconhecendo, mentalmente, as relações numéricas, abstratas entre as notas – que, no fundo, seriam inaudíveis, só uma “ilusão” dos ouvidos (uma espécie de Matrix matemática).
Kepler gastou um bom tempo tentando desvelar a harmonia oculta no movimento dos planetas, que os pitagóricos supunham formar um círculo perfeito. Mas acabou convencido de que estaria mais próximo da verdade se aceitasse a realidade que suas medidas lhe indicavam, mesmo que fosse a realidade “imperfeita” de uma elipse.
A mesma ambigüidade marcou a vida do alquimista alemão Philipp von Hohenheim, mais conhecido como Paracelso. Ele era um defensor radical da magia como “a sabedoria secreta”, dizendo que a razão não passava de “uma loucura pública”. Achava que as coisas inanimadas tinham espírito e estava convencido de que os astros exerciam influência direta sobre a saúde das pessoas.
Nada disso é compatível com o método científico. Mas Paracelso também fez observações cuidadosas do corpo humano e corrigiu diversos erros cometidos por Galeno, um dos grandes médicos da Antiguidade. Além disso, foi um pioneiro no estudo da química médica e desenvolveu o conhecimento sobre diversas substâncias importantes, como o enxofre e o mercúrio.
Paracelso nunca defendeu o método científico e não é reconhecido como um pai da ciência. Mas hoje já se admite que seu trabalho contribuiu para o avanço da pesquisa médica. Segundo o historiador italiano Paolo Rossi, um dos maiores especialistas no estudo da origem da ciência, Paracelso “destruiu a medicina de Galeno e transformou a prática médica e o ensino universitário”. Tudo isso no bom sentido, eliminando concepções ultrapassadas e abrindo novas possibilidades de pesquisa.
Do ponto de vista científico, não teve papel inferior ao do alquimista belga Jean-Baptiste van Helmont, que também seguia idéias similares às de Paracelso e foi perseguido pela Igreja. Diversas vezes foi preso e teve de abjurar suas descobertas. Em 1642, publicou o livro Ortus Medicinae, que teve repercussão extraordinária sobre o estudo dos gases. Van Helmont foi um dos primeiros a ressaltar a importância do gás carbônico no corpo humano, especialmente na respiração. Também demonstrou que a digestão não é só uma trituração mecânica da comida, mas uma decomposição química por meio de ácidos.
Como se vê, mesmo hoje não é fácil distinguir a ciência de outras formas de conhecimento. Mas o que agitava as mentes dos sábios e pensadores, a partir do século 15, era algo novo em todo os sentidos. Pela primeira vez admitiu-se que o aprendizado na prática também tinha valor, em alguns casos, era mais valioso que o conhecimento contido nos livros.
Místico e religioso
Essa nova forma de pensar não renegava os grandes ensinamentos da filosofia ou da religião, da lógica ou da intuição, mas determinava que todas as descobertas, além de serem coerentes com a razão, tinham de ser descritas em linguagem direta e demonstradas de maneira igualmente clara, de modo que outro estudioso pudesse repetir a demonstração e comprovar-lhe o resultado. Esses requisitos eram incompatíveis com o pensamento religioso e teológico, que, apesar de aceitar o racionalismo lógico, também se baseava na existência de uma realidade transcendental relacionada à existência de Deus e à fé.
Nos dois casos, místicos e religiosos aceitavam a verdade obtida por meio de uma revelação que não podia ser demonstrada na prática. Imbatíveis durante a maior parte da história da humanidade, durante a Idade Média eles passaram a ser colocados em dúvida. Nesse período, a civilização havia crescido muito (e rapidamente) e, no século 11, a Europa movimentava uma riqueza dez vezes maior que a do Império Romano em seu ápice, no século 3, com uma população também dez vezes superior. Tantas mudanças colocaram em xeque os conhecimentos que a Igreja havia sistematizado desde o século 5, e transformado no saber oficial da Europa. Nessa época, só os místicos faziam oposição à autoridade da Igreja. Era natural, portanto, que do meio deles nascesse o pensamento científico. Rossi conta que os místicos cresceram sob a influência de dois livros: o Secreta Secretorum, atribuído ao filósofo grego Aristóteles, no século 3 a.C., e o Corpus Hermeticum, supostamente de autoria do sábio Hermes Trimegisto, figura lendária do século 2. Esses dois textos foram editados por volta de 1460 e difundiram-se largamente pelo continente, influenciando muitos dos protagonistas da revolução científica.
O astrônomo polonês Nicolau Copérnico, em 1554, invocou a autoridade de Hermes Trimegisto para apoiar sua tese de que era o Sol, e não a Terra, o centro do universo. Na mesma época, o físico inglês William Gilbert, um dos pioneiros no estudo do magnetismo, achava que a força dos ímãs era reflexo do mundo transcendental, nos moldes do vitalismo. O filósofo alemão William Leibniz e o francês Renê Descartes, estrelas do pensamento racional no século 17, eram adeptos do lulismo mágico, uma forma obscura de misticismo. A lógica de Leibniz, segundo Rossi, tem pitadas da cabala. O físico inglês Isaac Newton teria dedicado mais de 1 milhão de palavras de sua obra para descrever processos alquímicos.
Com as navegações, a Europa passou a concentrar as conquistas tecnológicas de outros povos. Formaram-se centros de estudos nos quais se buscavam utilizações mais amplas e universais para o conhecimento de até então. Foram aprimorados o papel, a bússola, a pólvora e os foguetes chineses, e absorvidos dos árabes conceitos como o zero e a própria idéia de universidade, um local voltado exclusivamente para o saber.
A isso somaram-se as contribuições da Europa medieval: a produção em larga escala de metais, vidros e tecidos. Foram as primeiras fábricas da história, tocadas pela força da água. A produção de vidro foi importante para a construção de novos instrumentos, como o telescópio e o microscópio. Além deles, surgiram o termômetro, o barômetro e o relógio.
Sociedade avançada
A transformação foi enorme, mas não repentina. O mundo mudou nos séculos 16 e 18 e a ciência nasceu da adaptação do conhecimento a essas mudanças. Para se ter uma idéia, em 1680, enquanto Newton estudava o movimento dos corpos, ainda não havia eletricidade e ninguém sabia dizer as horas com precisão superior a 10 minutos. Não chega a surpreender que o gênio que coroou a revolução científica acreditasse que a luz era “o espírito da matéria viva” e Deus, “o espírito da luz”. Para ele, a Terra estava viva, como um “vegetal inanimado”.
No campo da biologia, desde 1555 o francês Pierre Belon havia notado semelhanças entre os esqueletos dos animais, abrindo caminho para a idéia da evolução das espécies. Em 1628, o médico inglês William Harvey descobriu a circulação sanguínea. Em 1661, o holandês Franciscus Sylvius estabeleceu que a digestão exige tanto a trituração quanto a decomposição química dos alimentos. Em 1665, o físico inglês Robert Hooke fez os primeiros desenhos de células vistas ao microscópio, mil vezes menores que 1 milímetro. Em 1676, o holandês Anton van Leeuwenhoek sugeriu que poderiam ser coisas vivas. Eram o que hoje chamamos de protozoários.
Em 1597, o alemão Andreas Libau revisou todos os tratados de alquimia e separou o que se podia comprovar do que era obscuro, abrindo caminho para que, em 1661, o irlandês Robert Boyle, descobrisse as regras básicas de combinação dos elementos, tornando-se o fundador da química moderna. No geral, as experiências envolviam elementos conhecidos desde a Antiguidade, como carbono, ouro, prata, cobre, enxofre, estanho, chumbo, mercúrio e ferro. Em 1669, o alemão Hennig Brand batizou o fósforo, o primeiro elemento químico a ter um descobridor oficial. Entre 1750 e 1800, surgiram platina, oxigênio, cloro, hidrogênio, potássio, cálcio e sódio.
Aos poucos, as personagens predominantes na sociedade européia também começaram a mudar: até 1500, diz Rossi, as figuras centrais eram “o santo, o monge, o médico, o professor universitário, o militar, o artesão e o mágico”. Nos séculos seguintes, surgem “o mecânico, o filósofo naturalista e os livres empreendedores”. Nessa última classe, inclui-se o alemão George Agrícola, que se tornou um ídolo da nova sociedade pela compilação que fez dos conhecimentos químicos práticos, extremamente úteis para a metalurgia.
O belga Simon Stevin fez algo parecido no campo da mecânica, por volta de 1585, ensinando, muito antes de Newton, regras claras para calcular as forças que atuam nas máquinas. Ele projetou e construiu uma carruagem a vela, com capacidade para 28 passageiros. Causou sensação e aumentou muito a confiança na nova maneira de entender o conhecimento.
Esses criadores livres, às vezes amigos, às vezes adversários dos místicos, foram aos poucos agrupando-se em associações abertas a qualquer cidadão e a todo o tipo de pesquisa – desde que seguissem as normas da ciência. Elas foram criadas, aprimoradas e disseminadas pelos pesquisadores de maneira coletiva, independentemente do que cada um pensava em particular. Como salienta o sociólogo israelense Joseph Ben-Davi no livro O Papel do Cientista na Sociedade, eles tiveram de organizar suas regras de conduta e seus critérios de verdade na prática, como um meio de se fortalecer ante os modelos antigos de conhecimento. A luta da ciência, diz Ben-Davi “foi, em grande parte, uma luta pelo método exato, paulatino e operacional do cientista”.
O resultado, segundo Rossi, é que as regras da ciência estão descritas nos estatutos de todas as instituições erigidas pelos novos pensadores, como as academias, os liceus e as sociedades científicas. Assim, um texto da Sociedade Real de Ciência, inglesa, pedia que os membros da sociedade dessem “preferência à linguagem dos artesãos e dos comerciantes em lugar da linguagem dos filósofos”, e exigia “postura crítica em relação às afirmações de quem quer que seja”. Uma frase desse estatuto pode ser usada como definição histórica da ciência: “a verdade não está ligada à autoridade de quem a enuncia, somente à evidência dos experimentos e à força das demonstrações”.
Saiba mais
Livros
O Nascimento da Ciência Moderna na Europa, Paolo Rossi, Blackwell, 2001, O autor derruba mitos e mostra que não havia grandes diferenças práticas entre os místicos e os primeiros cientistas
Isaac Newton, James Gleick, Pantheon, 2003, A melhor biografia popular de Newton. Gleick situa o físico inglês no tempo, quando a ciência apenas engatinhava. Imperdível
A History of the Warfare of Science with Theology, Andrew White, Prometheus, 1993, Traz histórias sobre a ingerência do pensamento religioso na ciência. Uma delas conta que até o século 19 a Igreja sugeria que esqueletos fósseis seriam restos mortais de anjos

A primeira vez a gente nunca esquece

1519
Fernão de Magalhães leva três anos para dar a volta na Terra
1542
O belga Andreas Vesálio desenha toda a estrutura do corpo humano e inaugura a anatomia moderna
1543
O polonês Nicolau Copérnico estabelece que a Terra gira em torno do Sol. Nasce a astronomia
1590
François Viète passa a usar letras para representar os números nas equações e inaugura a álgebra
1599
Quando ainda se achava que o rinoceronte era um roedor, o italiano Ulisses Androvandi descreve uma vasta lista de animais e dá início à zoologia
1609
Kepler descobre que a órbita dos planetas é uma elipse
1628
Descrita a circulação sanguínea. Obra do médico inglês William Harvey
1632
Galileu descreve as leis do movimento, sugerindo que um corpo continua avançando se não for obrigado a parar
1658
Jan Swammerdan observa e classifica milhares de invertebrados
1687
Newton publica a síntese da física, ainda em vigor: é preciso aplicar força para mudar o movimento de um corpo; quanto maior a massa, menor é a mudança; toda força cria outra igual, em sentido oposto. Também descobre a gravidade: todos os corpos se atraem

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Conto: "O Guardião dos Sonhos"

O Guardião dos Sonhos




Passeando entre as tamareiras, observava o crepúsculo imponente de sua terra, enquanto o sol opunha-se ao oeste apresentando primeira estrela da noite. O céu manchado de azul com alaranjado forte que só a natureza era capaz de produzir. Lugar de beleza esplendorosa para um cenário tão árido e triste. Na relíquia do deserto: O oásis. Lá caminhava um jovem chamado Ammu. Meio homem e meio menino, Ammu continha feições morenas, cabelos e olhos castanho escuro, cujo brilho tanto do sol como da lua era refletido nitidamente em seu olhar, aonde quer que fosse. Usava botas e calças negras, túnica branca encardida pelo vento misturada ao suor de seus movimentos corporais.  Ammu andava contemplando o deserto, pensando no frio que faria em algumas horas e no calor que consumia durante o dia. Pensava em como seria viver em outro país; ele almejava abandonar sua terra, sua nação. Ammu não desejava a tradição da família, não queria andar nas terras secas a vida toda como o pai; um homem do deserto consumido pela idade, sol e cansaço. Perdido entre pensamentos e reflexões de uma mente jovem, implorava para que algum deus lhe tirasse daquele solo fervente.

Uma lágrima escorre, enquanto o jovem limpa com as costas da mão, ele repara novamente no caminho e percebe algo muito estranho. Ammu leva um susto, encontra um largo portão, feito inteiramente de ouro trabalhado que dividia o oásis. Achando lindo e curioso, pois conhecia bem a região, jamais havia reparado naquele lugar, muito menos em um portão brilhante de tamanha proporção. Ammu adentrou os domínios que parecia ser algo de grande reinado dos contos de livros e lendas. Era um portal dourado com duas maçanetas escarlates na forma de chacal. Ammu não sabia bem o que era um chacal. Conhecia apenas através dos contos de seu povo. Ao tocar na estranha figura animalesca, o portão se abriu. Havia um longínquo caminho com tamareiras todas iguais, enfileiradas como se fossem duas colunas, formando uma estrada infinita.
Para Ammu estava claro que ao entrar deveria seguir o curso daquele único caminho, que se perdia no horizonte. Havia um vento estranho, agradável, sem direção que induzia calmamente á vontade. Ammu desejou muito não voltar para seu povo e seguir o caminho das tamareiras, não importando o que encontrasse por lá. Em um determinado momento ele percebeu que a estrada tinha um fim e a infinidade parecia uma ilusão. Viu um altar gigantesco, onde havia um trono dourado e uma capa solferina que encobria parte do assento. A poltrona sacerdotal continha hieróglifos antigos desenhados nas partes em que seriam para descansar os braços. Poderia ser o trono de algum sacerdote, quem sabe um sonho interessante de sua imaginação?

Percebendo que não havia ninguém ao redor, o jovem aproximou-se curiosamente. Olhou em volta, teve a certeza que o fim do caminho era o trono que ficava acima de três degraus igualmente dourados. Subiu os degraus vagarosamente, olhou para dentro do assento, quase encostando a face, Ammu desejou o poder. Foi quando olhou para “algo sem lembrança”, através do íntimo de seus olhos que reluziam no ouro do trono. No mesmo instante, Ammu foi transportado para outro local, era uma espécie de bosque. Havia entrado em uma realidade incompreensível do mundo; o fim, o término de todas as coisas vivas no universo, a escuridão. Ammu vê então um ponto de luz. Dentro do ponto luminoso havia uma estrada que brotava plantas verdes no chão, era húmido, alegre e extremo do qual ele vivia. Logo, tudo começou a desmoronar como um quebra-cabeça sendo desmontado. Ammu começou a ver a destruição, tudo estava sendo aniquilado e paralisado, um cataclisma, ele observava o fim de todas as coisas belas e puras da terra; os animais, as plantas que ali habitavam. A mata ia sendo engolida pela terra por causa do tremor, o solo não aguentava o falecimento das plantas que eram brutalmente arrancadas, enquanto o bosque desmoronava. A terra gemia em um encalço de dor lastimável e ele a tudo assistia. Como em uma catalepsia Ammu estava fisicamente inerte e perdido. Ele via um tipo de monstro metálico que arrancava e triturava as árvores soltando uma fumaça negra através de um tubo incompreensível á sua mente, trazendo o medo, horror e a devastação de um planeta indescritivelmente belo.   Percebia que havia vários monstros, os quais se movimentavam rapidamente como se não tivessem tempo a perder; tempo para causar um estado apocalíptico de profunda exaustão planetária. A terra rugia, as plantas clamavam lamentos de dor, o céu tornou-se empoeirado. Assustadoramente, ele se lembrou do deserto, enquanto a sua mente ia dispersando com a poeira que se espalhava, tornando-se um vento incompreensível. Quando a última árvore foi extraída da terra, o céu tornou-se sujo a ponto de ter a sensação que nunca mais o sol voltaria a brilhar, nem o céu ficaria a impressão azul. Tudo foi ficando sujo em fração de segundos e já não era mais poeira, era o vazio. O ambiente era negro, não como á noite, mas como um escândalo de morte. O assassinato de toda a sua humanidade.
O ar tornou-se inerte e a secura tornou-se umidade. Era o frescor pesado da morte. A incapacidade humana naquele momento, havia lhe dado um distúrbio visual em que os raios luminosos partidos de um ponto não se reuniam como deveriam, em um ponto da retina, sendo percebidos difusamente. Como se fosse o último dos seres daquela região inóspita que o planeta havia se transformado. Ammu havia perdido tudo.

Ammu recobrou as ações e embalou seu corpo a correr, correu na direção de um rio que começava secar ás vezes lentamente, ás vezes em uma pressa absurda, como se não conseguisse mais discernir o que era real em seus sentidos humanos. Ammu se agarrava a crença de que era a única criatura ainda viva naquele solo de terra infértil, sem luz e sem ar. O todo se consumia, ia embora à naturalidade do elemento harmonizador. Era escuro, porém ainda podia enxergar o princípio de explosões de rochas vulcânicas. Não querendo desfalecer com o resto da vida que ainda poderia conter dentro dele, tinha a sensação que algo sabia da sua existência e queria condená-lo á morte. Ele sentia medo enquanto corria na direção do rio que secava. Como um corte escuro, Ammu percebeu uma parede de pedra, onde continha uma fenda que era pouco menor que seu corpo. Com dificuldade espremeu o corpo através da fenda. Olhou para trás, tudo era incompreensivelmente apocalíptico, as pedras explodiam como álcool em fogo, era o caos. O jovem olhou para frente e viu que o lado de dentro não era o lado de dentro, mas sim o universo que se transformou em lodo, algo como um charco nauseante e perigoso. A aflição crescia e não sabia mais aonde caminhar, já que andar não era possível, teria que nadar ou arriscar ser agarrado pelas raízes mortas que formavam o lodaçal.
Ammu não sabia que estava no pântano das almas, o mundo dos mortos. O pântano cheirava morte e Ammu via espectros tomando forma de abutres que se alimentavam de almas. O corpo foi ficando pesado, os olhos lacrimejaram tanto que começaram a enxergar melhor no escuro. Percebendo a inércia de todo o corpo e sentidos, não havia mais em Ammu a sensação de ser totalmente humano, talvez pelo fato de estar em um ambiente não humano, terrestre ou material. Como se metade fosse mortal sendo caçado e a outra metade sendo o espírito fugindo da devastação de si mesmo. Tudo era real, não era um sonho ou um pesadelo de altíssimo grau nefasto e psicótico. Ammu estava perdido.

Ammu caiu de costas na margem do pântano e as águas turvas que ali pareciam permanecer paradas, fizeram um redemoinho e o levaram ao centro. As águas se agitaram, foi como se sua alma saísse do corpo, ainda que em formato humano, afundando a matéria, mesmo não sabendo se tinha acontecido ou não. O corpo físico havia virado alimento de algum devorador que espreitava o pântano ou viesse a fazer parte da sujeira do charco. Não tinha mais a noção do acontecido. Ele boiou sem noção do tempo. Não existia o tempo naquele lugar. Boiou até chegar a um ponto que parecia menos profundo à sensação. Ele só pensava em sair dali. Após a inércia, Ammu despertou como que vindo de um sonho e se levantou. A água podre atravessava na medida da cintura, parada, pesada e grotesca. Nos galhos espectrais a impressão de habitar coisas temíveis, assim como a ossada de cadáver se decompunha no fundo do pântano da morte. Ammu sentia-se mais leve, a visão clareava apesar de ainda haver certos pontos na névoa de coloração cinza, mesclado entre o branco e o negro. Quanto mais ele passasse através da névoa mais haveria o sentimento de desespero que antecedia á morte. Ammu atravessava as brumas cinzentas, percebia que apesar de ter a aparência humana, entretanto acabada e perdida, ainda era uma alma, como muito daquelas que deveriam habitar o amargo pântano ceifador.

Enquanto Ammu atravessava a bruma negra, tinha em cada passo, a certeza de que a matéria havia se extinguido no exato momento em que caiu sobre as águas turvas do rio da morte. O pântano era lúgubre, o ar úmido e ardido como a amônia e um misto de enxofre, um labirinto que emanava um vácuo no ambiente frio e fantasmagórico. Ammu sentiu o lodo borbulhando em sua direção. Algo o ameaçava, ele correu com dificuldade entre os escombros do rio, enquanto uma estranha correnteza se opunha á ele. Ammu sentia uma presença, uma forma de força devastadora, desvairada e incognoscível. Não se via o quê ou quem era vinha das árvores, da água podre, do ar cadavérico, vinha de todos os lugares. Ammu corria com as águas acima do joelho, as botas encharcadas, a roupa suja da tinta negra constituída dos restos mortais do pântano da morte.

Ammu atravessou a bruma gélida e cortante, foi quando avistou uma cabana flutuante, parecia que era feito com palha. Aproximou-se, entrou na cabana e lá só havia ervas frescas como se tivessem sido cortadas por mãos vivamente humanas. Postas de ponta cabeça, amarradas em feixe, juntas, no teto. Com medo sentiu que a presença se aproximava e voltou á saída, havia uma jangada no canto da porta, feita de sete ossos grossos, amarrados com cipó e um pedaço de tronco de árvore seca para remo, quase um cajado. Ammu pulou na jangada e pôs-se á remar. A água remansa era como um mingau que dificultava as ações braçais com o remo improvisado. Ammu entendeu que para remar era preciso controlar os pensamentos e não mexer o tronco com os braços como faz quando se é mortal. Em lugares inumanos nenhum esforço humano tem efeito e assim o medo o ensinava, a pressa o paralisava, a aflição o anestesiava. Ele podia ver vultos nas margens, nas árvores e em todo o lugar. Ammu olhou para trás, avistou um ser corpulento que não parecia um cadáver como os outros. Tudo era estranho e aparentemente irreal. Assustado, desceu da balsa e se escondeu em um emaranhado de árvores atrás da cabana, afundou o corpo debaixo d'água deixando só a face para fora, viu novamente um corpo grande e forte, três vezes maior em estatura que o seu. Ammu não conseguia ver o rosto da criatura que chegava cada vez mais perto. O jovem afundou completamente no lodaçal, encontrou um buraco em baixo da casa submersa, e, vendo sua única chance de escapar naquele momento de caça e caçador, ele entrou. Era o buraco escuro e primitivo de uma alma perdida.

Ammu recobrou a “consciência” em um lugar onde não havia água suja, o chão de mármore branco, espelhado como um cristal.
Deitado de bruços gemeu arqueando a cabeça de modo que sua face se erguesse, para poder ter a impressão de ver com olhos, ao invés de apenas sentir. Com o projeto de corpo um pouco mais pesado que antes, ele via um local mais iluminado, menos pavoroso. Era bonito! Apesar da egrégora ainda lembrar o pântano da morte. Perscrutou ao redor e percebeu que havia árvores e plantas, algumas eram ervas que soltavam perfumes amadeirados. Ammu levantou meio cambaleando, ele sentia uma presença que não o ameaçava. Vinha de uma escada obscura em um ponto do círculo onde ele se encontrava. Deu alguns passos em direção á energia que sentia: era semelhante a um riso. Viu uma sombra vindo em sua direção, a sombra tornou-se um jovem, um pouco mais velho que ele. A pele era bronzeada em tom moreno, como algo que parecia suor ou qualquer coisa do gênero que o fazia brilhar como o óleo. Possuía uma tira de pano vermelha na testa e tatuagens indecifráveis. Ammu esperava uma resposta para tantas perguntas enigmáticas. O jovem parou em sua frente, riu e disse telepaticamente, ao menos pensou que fosse, pois os lábios não se moviam como quando pronunciamos algo com as cordas vocais humanas.

 - Onde pensa que vai? Ele está procurando por você, não é? Ammu tentava falar, mas os lábios não mexiam, talvez pelo fato de ser um corpo astral e não uma carapaça de matéria física, humana, composta de átomos e milhões de elementos químicos. Ammu perguntou na esperança de sair dali ou ter uma resposta para suas perguntas misteriosas: - Onde estou? Prontamente o outro jovem respondeu: - Mesmo que pareça muito vago e irreal, eu posso ajudar a dissipar este sentimento de irrealidade se tentar entender que no momento que adentrou o universo pantanoso, você não é mais o mesmo. Ele quer destruí-lo, mas não por inteiro, por uma questão de vibração, de fato não é nada além de uma extensão dos poderes energéticos que emanam de você, e você nem sabe disso. Vivemos todo o tempo rodeados de um vasto oceano de ar e éter misturados, este interpenetrando aquele, como o faz a toda matéria física; e é principalmente por meio das vibrações neste vasto mar de matéria que nos chegam impressões externas. Contudo, tudo isso aqui, passa a ser irreal e insignificante porque não existe matéria e sim a vibração de seu espírito. - Eu estou morto? Perguntou Ammu. - Não está morto, caso estivesse não sairia do pântano, ficaria paralisado lá para sempre afligindo sua alma ao limbo, o pântano se tornaria o mar do inferno com o passar do tempo, você se tornaria uma árvore espectral. -Você mora aqui? O que está aconteceu?  Perguntou Ammu. - Metade de mim habita o pântano e outra metade o Palácio dos Sonhos.
Vivemos no deserto de nossas almas, natural que tenha visto o apocalipse e assimilado essa resposta tão incapaz, pelo fato de não obter o entendimento. Antes de perceber tudo, você era apenas um ser consciente de seu físico, um homem, um mortal. Ammu olhou para o seu corpo. Estava descalço com as roupas iguais ao do jovem que encontrou. O jovem disse á Ammu: - Não pode voltar. O mundo que deseja não mais existe. Eu o levarei ao Mestre, ele lhe procura. Aqui é apenas o jardim do palácio. O Guardião dos sonhos lhe aguarda. - Quem é você? Perguntou Ammu desfalecendo-se por falta de esperança. - Não importa, mas se quer saber pode me chamar de K.

Desolado, Ammu o acompanhou. Os dois desceram as escadas. Tudo era muito obscuro, porém diferente do pântano, existia algo divino em tudo que sentia, sua mente ia se calcificando á medida que descia os degraus para um universo sem fim. Ammu não tinha outra escolha. K levantou a mão direita dizendo: - Sua vibração de medo o irrita, acredito que ele deseja transformá-lo, essa será a outra parte da sua iniciação. - Não vou! Gritou Ammu tentando fugir. K estalou os dedos e novamente estavam no círculo onde Ammu despertou após chegar do pântano das almas. O chão havia se transformado em ouro e havia um sarcófago cravejado de pedras preciosas. A sua frente havia a imagem de um Deus, metade animal e metade homem. Metade chacal e metade faraó. Nos olhos haviam dois rubis. As paredes do palácio eram feitas de mármore negro, as colunas eram de ouro com desenhos antigos e códigos indecifráveis. K se punha de joelhos saudando o sarcófago. Ammu entendeu que deveria fazer o mesmo. Trêmulo de pavor ajoelhou-se. - Levante-se! O Guardião dos Sonhos quer vê-lo. Disse K. Ammu levantou suando frio. Aproximou-se contra a própria vontade, em passos que pareciam ser eternos. Olhou dentro da câmara funérea e lá havia um faraó egípcio coberto por um manto fino e escarlate. De repente não havia mais nada além de uma fumaça coberta por um lençol vermelho. Ele olhou para trás procurando K, o jovem havia ido embora pelas obscuras escadas que naquele momento subiam ao invés de descer.

Na frente de Ammu surgiu o sacerdote, ele tinha por volta de dois metros de altura, ombros largos, careca, moreno com rosto ovalado e austero, impondo pavor em quem o olhasse. Envolto em um manto vermelho, usava sandálias douradas, brincos dourados de argolas nas orelhas e na pele havia desenhos vermelhos de serpentes aterradoras. O corpo era rijo, grande e musculoso. O jovem ficou paralisado. Contemplava o interior dos olhos do faraó que pareciam vermelhos como brasa. Ammu viu todo o mal do mundo e dos homens. A mente havia se perdido na confusão da inocência, sendo consagrado naquele instante, a ser Guardião Sonhos. Entendeu que o pântano da morte era a iniciação, tudo que havia perdido inclusive sua consciência humana fazia parte dos planos do Guardião do pântano da morte. À medida que era atraído pelas pupilas do faraó, Ammu experimentava breves lampejos de dissociação, ou estados superficiais de realidade não comum, logo o irreal tornou-se um estado comum. Durante a iniciação de Ammu, ele ouvia as palavras do Guardião dos Sonhos através de sua consciência, até a transformação ser completada.

- Para mudarmos por completo, é necessário morrer, perdendo e abandonando todo o passado. Desta forma, estará pronto para o renascimento dentro de um novo caminho, um novo conceito, aquele no qual escolheu ou foi conduzido. Uma vez abandonado o caminho simples da consciência, entra-se em um pântano escuro para a renúncia do eu. Renunciar é o mesmo que morrer. Morrer é o mesmo que transforma-se. Quase sempre nos transformamos naquilo que desejamos no intrínseco do inconsciente. Os sonhos. Temos sempre que deixar ou perder algo para ganhar algo, entrar no universo pantanoso para obter a iniciação e a glória. É a lei cósmica da compensação.
Ao passar através do pântano, todas as vibrações indesejadas da alma de Ammu se diluíram. Tornando o jovem um guardião. Iniciado pelo Guardião dos Sonhos após atravessar o tenebroso pântano, lugar onde as almas se transformam para o renascimento de um novo Rei. O guardião dos próprios sonhos.

  

Por Letícia de Castro



20/09/2014 - VI Concurso de contos da Sociedade Brasileira de Eubiose - São Thomé das Letras MG  
Prêmio 2º lugar autora Letícia de Castro - conto: O Guardião dos Sonhos



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